Telecomunicações - Telégrafo

A palavra “tele” é de origem grega e significa “distância”. A comunicação à distância foi a primeira aplicação comercial de importância da eletricidade e muitos pesquisadores se dedicaram ao desenvolvimento dos primeiros dispositivos e sistemas para este fim. Primeiramente através de fios e cabos e depois por ondas eletromagnéticas, as comunicações à distância aos poucos se tornaram parte do dia a dia. As experiências neste campo começaram com o telégrafo. 

Telégrafo 


Os créditos desta invenção são divididos entre muitos cientistas, porem Samuel Finley Breese Morse (inventor norte americano) e Charles Wheatstone (cientista britânico) se destacaram neste ramo na América e Europa respectivamente, entretanto Morse patenteou trabalhos desenvolvidos por outros pesquisadores, principalmente de Joseph Henry que tinha desapego a direito de propriedade. Morse alem de construir sistema protótipo (1837) criou um código de sinais para o alfabeto (1838) como uma seqüência de traços e pontos que se tornou mundialmente utilizado (Código Morse), daí seu nome ser mais conhecido.  Foi em 1844 que Morse concluiu a linha telegráfica comercial ligando Baltimore a Washington, DC. Na Europa, o inventor e industrial alemão Ernst Werner von Siemens aperfeiçoou o telégrafo dotando-o de um apontador para as letras do alfabeto, o que dispensava o Código Morse. Fundou a “Telegraphen-Bauanstalt Siemens & Halske” em 1847, hoje “Siemens AG”, indústria que ainda atua e é referência nos diversos ramos da engenharia elétrica.

O candidato Morse
O pai de Samuel Morse era calvinista, o que levou Morse a desenvolver fervorosos preconceitos e acreditar em teorias de conspiração contra os Estados Unidos partindo de católicos e estrangeiros. Em 1836 Morse foi candidato a prefeito de Nova York com discurso anticatólico e antiimigrantes, tendo porem recebido poucos votos.

Na seqüência, o feito mais desafiador, pela dimensão e custo que envolvia, era viabilizar a telegrafia entre continentes (América e Europa). O empresário norte americano Cyrus West Field financiou o empreendimento de construção de um telégrafo através do lançamento de um cabo submarino entre a América do Norte e a Inglaterra. A primeira tentativa foi em 1858, porem o projeto do cabo não era adequado, o que tornava a transmissão demasiadamente lenta e o cabo foi abandonado algumas semanas após começar a operar.  Field então buscou ajuda junto ao engenheiro irlandês William Thomson (Lord Kelvin), que havia previsto o fracasso do cabo anterior e tinha teorias mais avançadas para o projeto de um novo cabo. O novo projeto contou também com ajuda (consultoria) de James Clerk Maxwell que era amigo de Thomson. Porem mais uma vez o plano foi frustrado, pois este segundo cabo (1865) sofreu acidente durante seu lançamento e também foi abandonado. O sucesso só veio em 1866, com o lançamento e operação satisfatória do terceiro cabo transatlântico (1).
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1-Thomson desenvolveu um equipamento chamado “galvanômetro de espelho” que foi fundamental para as transmissões submarinas de longa distância, pois era capaz de detectar sinais de fraca intensidade.

Brasil


A introdução das novas tecnologias associadas à eletricidade no Brasil começou ainda na época da monarquia e seguiu quase que simultaneamente a divulgação das invenções protagonizadas pelos seus principais personagens, principalmente norte-americanos, em função do Imperador D. Pedro II ser um entusiasta de novidades tecnológicas e dele próprio partiu as determinações para muitas das iniciativas e empreendimentos neste campo, pois alem de estar sempre muito bem informado nesta área, participou de eventos e exposições, conhecendo de perto e de forma pioneira detalhes e perspectivas futuras dos mais modernos dispositivos. Firmou acordos com as empresas de Thomas Edison e Graham Bell permitindo o início da exploração comercial de seus equipamentos e sistemas no país.

Já em 1852 foi construída a primeira linha de telégrafo ligando o Palácio da Quinta da Boa Vista ao Quartel do Exercito de Santana no Rio de Janeiro (4 km subterrâneo), sob a supervisão do engenheiro Guilherme Schüch, o Barão de Capanema (2). Em 1857 foi construído o primeiro cabo submarino telegráfico brasileiro, com um trecho de 15km entre a ligação do Rio de Janeiro a Petrópolis (50km).

O impulso seguinte da expansão telegráfica brasileira foi por ocasião da guerra com o Paraguai (1864/1870). Os planos anteriores priorizavam a expansão no sentido Norte a partir do Rio de Janeiro, entretanto a guerra acabou por impor a necessidade militar de comunicação na direção Sul. Entre 1865 e 1866 foram construídas 17 estações de telégrafo em cidades (3) ao longo da rede aérea (com alguns trechos submarinos) litorânea ligando o Rio de Janeiro até Porto Alegre. A partir destas estações intermediárias a rede se expandiu para o interior e acabou por se tornar um importante meio de integração nacional.

Em 1873 foi concluído o lançamento de um cabo submarino entre Recife (PE) e Belém (PA), que se interligou ao sistema Rio de Janeiro – Salvador – Recife e nesta ocasião esteve no Brasil Sir William Thomson (Lorde Kelvin) para supervisionar o trabalho de colocação (4). No ano seguinte, foi lançado um cabo transoceânico entre Recife e Portugal, passando por Cabo Verde e Ilha da Madeira, interligando o Brasil ao sistema Europeu de telégrafos. Este empreendimento contou com o empenho de Irineu Evangelista de Souza, Barão de Mauá e foi executado pela empresa norte-americana Western and Brazilian Telegraph Company (WBTC) que prestava serviços no Brasil.

A conclusão da ligação telegráfica entre o Brasil e a Europa foi em 22/06/1874. Nesta ocasião D.Pedro II transmitiu mensagens para os reis de Portugal, Inglaterra e Áustria.
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2-Adotou o sobrenome Capanema em homenagem a um povoado próximo a Ouro Preto (MG), sua cidade natal. Fundou e dirigiu a Repartição Geral dos Telégrafos (RGT) até o final do império.
3-Cidades do litoral dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
4-William Thomson veio acompanhado de Henry Charles Fleeming Jenkin, no navio a vapor Hooper que foi construído com a finalidade de lançar cabos submarinos. A viagem entre Recife e Belém foi em agosto de 1873 e segundo Thomson, este novo cabo foi fabricado observando as condições de temperatura das águas da região e julgava que este era o melhor projeto dentre os que havia participado. Em Belém, aguardaram a chegada de um outro vapor, o Great Northern, com o cabo que completaria o trecho final da ligação. O trabalho foi finalizado com sucesso em setembro de 1873.

Paraná


De comarca de São Paulo a província, o Paraná se emancipou politicamente por ato do Imperador D. Pedro II em 1853. Nesta época, seus poucos habitantes se concentravam basicamente nas regiões de Curitiba e Paranaguá e para o local da capital foi escolhida Curitiba (5).

O crescimento populacional contou com a ajuda de imigrantes estrangeiros e a atividade inicial predominante foi a extração de erva-mate e madeira. Quase trinta anos após a emancipação começava a construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, cortando a Serra do Mar, considerada até hoje uma obra prima de engenharia, inaugurada em 1885 (6)

O telégrafo chegou ao Paraná ainda no período Imperial (1866) em Paranaguá, por onde passava a linha que ligava a capital (Rio de Janeiro) a várias cidades do Sul do Brasil, e se estendia até Porto Alegre (7). Esta linha foi construída entre 1865 e 1866 como obra estratégica para comunicações militares durante a Guerra do Paraguai (1864/1870).

Em 16/02/1867 passou a operar na cidade de Paranaguá uma estação telegráfica que se interligava a esta linha, propiciando intercâmbio de informações pelos órgãos públicos e privados, bem como para a imprensa. Logo em seguida teve início a expansão do sistema pelas cidades da província. Guaratuba ganhou uma estação em 07/04/1869, Morretes em 02/12/1870, Antonina em 02/04/1871 e Curitiba em 30/10/1871.


Depois, o sistema se estenderia até a Lapa (19/11/1882), Palmeira (25/11/1882), Ponta Grossa (10/03/1883), Guarapuava (14/11/1883) e Palmas (15/11/1885). 

Alem do Telegrafo Nacional funcionavam linhas das empresas concessionárias de estradas de ferro: Cia Generale des Chamins de Fer Braziliens, empresa concessionária da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, inaugurada em 1885 e Cia São Paulo-Rio Grande, que começou a operar em 29/10/1910.
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5-Coube ao baiano Zacarias de Góes e Vasconcelos (1815/1877), primeiro Presidente da nova Província, escolher a Capital. A população de Paranaguá acreditava que sua cidade seria a preferida, porem Zacarias sem conhecer a região elegeu Curitiba. As razões de sua escolha até hoje se discutem, mas é muito provável que já durante sua viagem de subida da Serra do Mar (pelo caminho de Itupava) tenha ficado em dúvida do acerto de sua decisão. Depois então, com o que viu ao chegar e sentiu do clima da cidade com a chegada do inverno, talvez tenha se arrependido, porem já era tarde. Retornou ao Rio de Janeiro ao final de seu mandato de um ano e meio (19/12/1853 a 03/05/1855), tendo posteriormente ocupado vários cargos políticos de relevância, incluindo o de Presidente do Conselho de Ministros do Império (chefe do poder executivo brasileiro).
6-Em 1880 D.Pedro II viajou ao Paraná para inaugurar a pedra fundamental da estrada de ferro em Paranaguá e na ocasião percorreu Antonina, Morretes, Curitiba (onde inaugurou a Santa Casa de Misericórdia) e outras cidades interioranas (Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa, Castro e Lapa). Em Novembro de 1884 a Princesa Isabel e família visitaram Curitiba e foram passageiros do trem, porem desembarcaram em estação próxima a cidade, pois ainda faltava concluir um trecho final.
7-A linha sul passava por várias cidades litorâneas ao longo de 5 províncias:
Província
Cidades
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati
São Paulo
Ubatuba, São Sebastião, Santos e Iguape
Paraná
Paranaguá
Santa Catarina
São Francisco do Sul, Itajaí, Desterro (Florianópolis) e Laguna
Rio Grande do Sul
Torres, Conceição do Arroio e Porto Alegre


O Barão, o telégrafo e a chácara

O correio oferece ainda hoje o serviço de envio e entrega de Telegrama. Está lá, na página on-line dos CORREIOS na Internet uma ferramenta para envio de mensagens telegráficas. Mudou a tecnologia, mas o serviço é basicamente o mesmo desde que foi implantado em meados do século XIX. No Brasil começou a funcionar em 11/05/1852. Esta longevidade chega a ser surpreendente frente à quantidade de meios de comunicação dos dias atuais. O telégrafo elétrico pode ser considerado o primeiro sistema de uso disseminado de eletricidade no mundo.

Guilherme Schuch (1824-1908) esteve à frente do Telégrafo Nacional desde a sua implantação (1852), criou e dirigiu a Repartição Geral dos Telégrafos (RGT) até o final do império (1889). Engenheiro militar e atuante em diversas outras atividades (física, mineralogia, botânica, etc) tornou-se Barão de Capanema (1) e mudou o nome para Guilherme Schuch de Capanema. Envolveu-se em trabalhos relevantes como na introdução do sistema métrico no Brasil e na instalação de estações meteorológicas, entre outros e participou de várias instituições, como do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Figura de renome nacional, o Barão de Capanema se fez presente também na antiga Província do Paraná bem como na cidade de Curitiba.

Uma linha telegráfica chegou ao Paraná ainda no período Imperial (1866) passando pelo litoral, vinha do Rio de Janeiro e se estendia até Porto Alegre. Esta linha foi construída entre 1865 e 1866 como obra estratégica para comunicações militares durante a Guerra do Paraguai (1864/1870).

Já no início de 1867 passou a operar na cidade de Paranaguá uma estação telegráfica que se interligava a esta linha, propiciando intercâmbio de informações pelos órgãos públicos e privados, bem como para a imprensa (2).

Logo em seguida teve início a expansão do sistema pelas cidades da província. Guaratuba ganhou uma estação em 1869, Morretes em 1870 e Antonina e Curitiba em 1871. Depois, o sistema se estenderia até a Lapa e Palmeira só em 1882, Ponta Grossa e Guarapuava em 1883 e Palmas em 1885.  Alem do Telegrafo Nacional funcionaram no Paraná linhas telegráficas das empresas concessionárias de estradas de ferro: Compagnie Générale de Chemins de Fer Brésiliens e Cia São Paulo-Rio Grande (3).

Em Curitiba, o Barão de Capanema foi proprietário de uma chácara tida como modelo na época. Conta-se que Capanema plantava variadas espécies, fazia experiências agrícolas e cultivava um jardim botânico no local. Há referências de visitas da família imperial a esta chácara nos diários de viagem ao Paraná em 1880, ocasião da estada de D. Pedro II (visitou o “sítio do Capanema” dia 03 de Junho) e em 1884 da Princesa Isabel (visitou a chácara acompanhada do Conde D’Eu dia 05 de Dezembro). De Paranaguá a princesa acompanhada dos familiares subiram a Serra do Mar em direção a Curitiba como passageiros de trem, antes da inauguração oficial em 1885 e, portanto, desembarcaram no local que a linha terminava na ocasião, que era na região da chácara. Em ambas as ocasiões o Barão acompanhou as famílias.

A partir de 1886 por iniciativa da RGT foram instalados diversos observatórios meteorológicos em cidades brasileiras. Um destes observatórios foi construído nesta chácara de Curitiba que passou a funcionar em 1888 e contava com um aparelho automático meteorógrafo Theorell. Estes equipamentos eram dispositivos de relojoaria de alta qualidade ligados a sensores térmicos, barométricos e higrométricos que registravam gráficos em papel acomodados em cilindros rotativos. Possuíam mecanismos que acionavam penas para impressão contínua de variações de temperatura ambiente, pressão e umidade relativa do ar. Alguns modelos possuíam ainda dispositivo para leitura de velocidade do vento.

O Barão de Capanema também chefiou uma missão brasileira na questão de limites com a Argentina (4). Havia discordância quanto à definição da fronteira entre os dois países na região do sudoeste paranaense (região de Palmas). Os Argentinos alegavam que as linhas de limites entre os territórios eram os rios Jangada e Chapecó, enquanto que o Brasil defendia que a fronteira era delimitada pelos rios Santo Antonio e Pepiri-Guaçu.

Esta questão se estendeu por um longo tempo e só foi resolvido (a favor do Brasil) posteriormente, já no período republicano (1895) com a arbitragem do presidente Stephen Grover Cleveland (1837-1908) dos EUA, tendo o Brasil nesta ocasião sido brilhantemente defendido junto às autoridades norte-americanas por José da Silva Paranhos Jr. (Barão do Rio Branco).

Com o crescimento da cidade, o local e redondezas onde se situava a chácara curitibana do Barão de Capanema foram urbanizados, se tornou um bairro municipal e este bairro acabou sendo batizado de “Capanema”. Outros logradouros da mesma região também foram originalmente batizados com o nome do Barão, como a Avenida Capanema, a Usina Capanema e até o estádio Durival Britto e Silva que se localiza no local, foi apelidado de “Vila Capanema”. Todavia, aos poucos estas reminiscências estão desaparecendo, ora pela modernidade, ora por descaso ao passado. O nome da Avenida Capanema foi mudado para Avenida Afonso Camargo. A Usina que era térmica e funcionava onde hoje é a rodo-ferroviária foi desativada e nada restou. Em 1992 o nome do bairro foi mudado para Jardim Botânico, em função do parque municipal de mesmo nome, inaugurado em 1991, em uma área preservada da região. Restou apenas o informal apelido do estádio Durival Britto, ainda freqüentemente lembrado como “Vila Capanema”.

Aos poucos as lembranças são apagadas, os nomes mudados e os locais perdem vínculos mnemônicos de acontecimentos marcantes e isto não ajuda em nada na conservação da memória da cidade. Deveria-se pensar mais nisto sempre que por motivos intempestivos resolve-se trocar nomes de logradouros públicos consagrados pela história.
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1-Adotou o sobrenome Capanema em homenagem a um povoado próximo a Ouro Preto (MG), sua cidade natal.
2-A partir de 1867 o jornal “Dezenove de Dezembro” (primeiro jornal da Província) passou a publicar notícias recebidas na estação de Paranaguá através de mensagens telegráficas.
3-A Compagnie Générale de Chemins de Fer Brésiliens foi a empresa concessionária da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, inaugurada em 1885, e a Cia São Paulo-Rio Grande passou a funcionar em 1910 após a conclusão do trecho ferroviário ao sul de União da Vitória.
4-Em homenagem ao Barão de Capanema, por atuação na questão dos limites da região de Palmas, o município paranaense de Capanema, localizado na região de conflito, foi assim batizado. Há outro município brasileiro chamado Capanema, no estado do Pará, em homenagem a sua atividade à frente do telégrafo nacional.



Telégrafo Óptico
O telégrafo elétrico foi precedido pelo óptico, que consistia de torres construídas em elevações naturais e com ângulos de visão entre elas, onde operadores utilizavam variados dispositivos para o envio de sinais como, por exemplo, bandeiras, para transmitir mensagens. Na Europa estes sistemas foram bastante difundidos. No Brasil telégrafos ópticos funcionaram em algumas cidades portuárias como no Rio de Janeiro e Salvador e sua principal missão era antecipar a chegada de navios, identificando o país de origem e tipo de embarcação.

Telégrafo Óptico no Paraná
David Carneiro, em seu livro “O Paraná na história militar do Brasil” revela que um “sistema de telegrafia rudimentar” também operou na baía de Paranaguá na primeira metade do século XVIII. Consistia de mastros “para nele se fazerem sinais”, sendo dois localizados na ilha do Mel: morro das Conchas (onde hoje é o farol) e morro da Fortaleza (onde posteriormente foi construída a Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres em 1769). Um terceiro, na ilha da Cotinga “os transmitia para a então Vila de Paranaguá”. Em tempos de pirataria, a missão das sentinelas era avisar a presença de navios suspeitos.